Estou sentada em frente ao computador a digitar letras sem sentido. Entregue às redes sociais como forma de entreter este tédio que me domina todos os dias. Sinto um leve aroma a maçã a entrar-me pelas narinas. É um pau de insenso que está a queimar. Um aroma suave e delicado que acalma o meu coração inquieto. Há muito tempo que não sei o que é estar feliz, que não sei o que é sorrir com vontade, não sei o que é estar sozinha, assim como não sei o que é estar acompanhada.
Por vezes sinto uma triste saudade do passado.
Um passado não muito distante. Um passado em que tinha a verdade comigo. Um passado em que não havia o bem e o mal. Um passado cheio de amor e amizade. Estou triste porque não posso voltar ao que era fácil, ao que era garantido.
Todas as manhãs acordava com vontade de viver. Agora acordo todas as manhãs sem vontade de nada. Cada vez é mais difícil. Cada dia que passa é um tijolo que se junta à barreira que é a impossibilidade em que se tornou a minha vida. Acordar de manhã é um sacrifício que faço, pois já não me dá prazer acordar. Mas que importa isso?
O meu presente, a minha nova realidade, está entregue ao desconhecido e falso caminho. Irrita-me o facto de cair em todas as armadilhas. Depois de sair de uma volto a iludir-me e caio noutra. Iludo-me com aquela bela imagem lá à frente que depressa é desfeita. Triste sina a minha. Triste sina de todos nós.
Deixo de sentir o aroma. O insenso já queimou todo, mas as chamas das velas ainda queimam. Aquele insenso representa a minha alma que já queimou toda, que já deu toda a sua vida, que já morreu. Mas as velas! As veles representam a força do meu coração que é como um incêndio que flagra cheio de coragem e determinação para chegar onde quero.
Sara António